BAMBADINCA, GUINÉ-BISSAU
24/10/13
Recentemente realizei uma viajem à Guiné-Bissau, mais propriamente à capital Bissau e a Bambadinca, onde acompanhei a construção de um projecto de arquitectura em co-autoria com o atelier do qual sou coordenador. O projecto na sua génese é uma central fotovoltaica híbrida que pretende fornecer energia eléctrica à totalidade da vila de Bambadinca com aproximadamente sete mil habitantes.
Perante uma realidade da construção tão distante do panorama ocidental em todas as suas vertentes: clima, qualidade construtiva, qualificação da mão-de-obra e técnicos especializados, acesso aos materiais e tecnologias de apoio, só através de processos criativos se poderão propor soluções de controlo ambiental e das águas das chuvas que correspondam correctamente às exigências da região. Agora se entende, a quando da realização do documentário de Catarina Alves Costa “o arquitecto e a cidade velha”, que o arquitecto Álvaro Siza Vieira questione um dos habitantes locais, se seria necessária, após a remodelação da sua habitação, a colocação de vidros nas janelas!
Esta observação não foi de todo descabida quando confrontado com a natureza das habitações a que se propunha recuperar e correspondente clima que se ajustava à Cidade Velha da ilha de Santiago em Cabo Verde. O clima africano a isso obriga e determinada que as soluções tenham de ser obrigatoriamente consentâneas com a realidade envolvente, não permitindo imposições de sistemas de climatização dispendiosos ou vulgarmente aplicados no continente europeu. A observação e análise da natureza das construções da região permitiu-nos desenvolver uma proposta que se adapta às condições climatéricas da zona e às exigentes especificações técnicas das baterias de apoio aos painéis solares. Nessa medida todo o edifício recorre a sistemas de ventilação passiva com soluções baseadas nas construções vernaculares das tabancas locais.
Construção com perfurações generosas, ao nível do piso térreo nas orientações mais ventosas, permitindo ventilação cruzada em todo o edifício. A cobertura é construída em suspensão das paredes periféricas num misto de chapa metálico e palha local, garantindo a integração das novas soluções construtivas com as praticadas desde os primórdios! Soluções ajustadas à realidade económica e sem necessidade de manutenção constante, garantido um comportamento térmico eficiente à totalidade do edifício. Neste sentido importa ressalvar o papel do arquitecto nas tomadas de posição sobre esta problemática. Mais do que implementar soluções correntes às quais está amplamente familiarizado, deverá interpretar os sinais do local onde irá implementar a proposta projectual para que na exacta medida possa desenvolver processos que permitam ao edifício revelar um desempenho energético ajustado à realidade climatérica da zona onde está inserido.