A CONSTRUÇÃO E A VIDA
16/09/13
Antoine de Saint-Exupéry em 1939 na sua obra “Terre des hommes”, alimentava a esperança de que ”a nossa casa tornar-se-á sem dúvida, pouco a pouco, mais humana”, contudo nada mais enganado quanto a este fim. Passados pouco mais de três décadas, de intenso anseio, Italo Calvino replicava nas suas "Cidades Invisíveis" descrevendo a cidade de Trude como “se ao aterrar em Trude eu não tivesse lido o nome da cidade escrito num grande letreiro, pensaria ter chegado ao mesmo aeroporto de onde havia partido. Os subúrbios que me fizeram atravessar não eram diferentes dos da cidade anterior.” Será interessante constatar que vivemos uma época, cada vez mais complexa e cheia de contradições e de difícil entendimento e percepção do mundo que nos rodeia. Constata-se que o habitante urbano a político encontra no contexto de cidade resposta a necessidades, antes exclusivamente do lar.
A cidade adquiriu a dimensão do particular. Uma realidade do construído que se expande e contrai, vive da dimensão do limite como resposta às nossas necessidades. O privado, numa crescente minimização da sua escala, encontra na tecnologia e na cidade a fuga para os seus limites. Em resposta a esta condição, o perímetro do privado redefine-se sem fronteiras entre funções. Os espaços exclusivos de repouso são agora também eles de refeições, lazer ou higiene. A construção e tecnologias acessórias tiveram que se adaptar na promoção deste “life style”, na procura da rapidez na oferta e disposição ecléctica do programa habitacional. O gesso cartonado tornou-se ora na ferramenta e na última fronteira da cidade. Se na micro dimensão da vida humana é o gesso quem reina, já numa escala planetária é o betão dominador das fronteiras físicas e das suas limitações. Se globalmente as culturas, espaços e narrativas tende a uniformizar-se, actualmente, no traçado planetário, em todos os continentes sem excepção, existem mais de trinta divisões físicas em betão que segregam raças, nacionalidades, crenças, ideias e disputas territoriais.
A disputa de territórios não tem fim e apresenta-se determinante para alguns no orgulho ou determinação religiosa. A esperança na realização de uma promessa de futuro, muitas vezes está do outro lado da “linha” do betão, virtualidade consciente e diferenciadora, no entanto cada vez mais incapaz de controlar fluxos ou tentações. A construção física de vedações implantadas em territórios perenes na sua génese e topografia é cada vez mais uma constante, sendo que, o controlo do espaço jurídico e político obrigou ao longo do tempo, à construção de barreiras que permitiram a desenvoltura de estruturas e sociedades que determinaram diferentes ocupações de território, apesar de confinadas por muros.
A construção mais do que vontades ou desejos é determinante na nossa vida mas pela sua generalização é nos invisível aos olhos.